Inversão de tudo.
A onça-pintada dorme na calçada
do outro lado da rua
onde ela faceira passa.
Rujo para lhe acender o cio
e o meu amor mostrar-se mais
e ela, em passos de desafio,
vai a olhar para o meio da rua
Eu a vejo passar sorrindo.
A onça não se mexe, coitada.
O vento limpa a rua molhada
e eu, sempre a esperar que volte
um certo amor que vem do Norte
e certa morte que vem da rua.
A mulher que é minha a onça a tem.
Sei que a estrada é de ninguém
e o meu lugar é nas calçadas das matas
onde as mulheres deitadas dormem,
vendo as onças passarem.
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